quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Assembleia pontual

Alvoroço total.
Algazarra generalizada.
Murmúrios e lamentações.
Grunhidos e gemidos estranhamente doídos.

Eram os pontos, as vírgulas, as exclamações.
Toda a alta cúpula da pontuação se reunira para discutir,
- corria, na boca pequena, que só queriam reclamar -,
da atual conjuntura nacional.

O reclame era quase em uníssono:
"povo burri, povo burro!"

Um desavisado acharia que era uma reunião de pseudo-intelectuais populistas
conclamando sua arma mais poderosa.

O Ponto, que era o mais exaltado,
esperneava e esbravejava xingamentos mil.
"Esqueceram de mim! Esqueceram de mim!"

O pobre coitado era amparado por seus colegas,
mas a tristeza era de dar dó.
Ninguém mais usa o Ponto!
Nem lembram dele.
Qualquer alma caridosa
que se compadeça a usá-lo é questionada
do porquê estar brava ou irritada.
Usar o Ponto virou coisa séria.

A Vírgula Adversativa não tinha mais forças nem para reclamar;
o Ponto e Vírgula, coitado, já estava em tratamento psicológico há tempos;
a Reticências, três gêmeos siameses mal resolvidos,
cantavam gritos de ódio aos que os usavam em frases de auto-ajuda
para quem tem relacionamentos mal resolvidos.

No fim, depois de todo aquele lamento e choro,
foram todos para suas respectivas residências
compartilhar o que havia acontecido
nas mais variadas redes sociais.
Expunham que a luta era forte
e que todos se uniram para fortalecer
a pontuação brasileira.

Victor da Silva Neris